segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Homossexuais protestam contra rua com nome de homofóbico

Grupo Gay da Bahia se revolta contra projeto de lei

Henrique Brinco

Uma lei proposta pelo vereador Pedro Godinho, do PMDB na Bahia, está gerando polêmica em Salvador. O Grupo Gay da Bahia (GGB) iniciou um protesto contra a troca de nome de uma rua em Mussurunga para o do jornalista José Augusto Berbert, falecido crítico de cinema do jornal “A Tarde”. A revolta iniciou-se pelo fato do homenageado ter feito manifestações homofóbicas durante toda a sua vida.

Berbert tornou-se famoso na cidade por atitudes como usar um boné com a frase "Berbert: Exterminador de Veados" e defender o homicídio de gays. Declarações polêmicas como “mantenha Salvador limpa, mate uma bicha todo dia!” e “bicha ou morre de AIDS ou assassinada”, causaram repercussão negativa inclusive em outros países. Diversas organizações nacionais e internacionais criticaram duramente a postura do brasileiro, falecido em julho de 2008.

"Salvador não merecia tão ofensiva homenagem, iniciativa irresponsável do vereador Pedro Godinho e aprovação da Câmara Municipal de Salvador (...) A cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil e precisamos dar um basta nesta situação.", diz o antropólogo e professor da Luiz Mott, da UFBA.

Para Felipe Natanael, advogado, homossexual assumido e voluntário da GGB, tal homenagem seria um retrocesso para a cidade e só contribuiria para a “glorificação da homofobia”. “Na minha adolescência, sempre que tinha notícias dos atos desse senhor [José Augusto], me sentia envergonhado em relação a minha orientação sexual. Mas era ele quem era ‘o errado’ da história”, desabafou.

A reportagem de LEIA 7 tentou entrar em contato com Pedro Godinho. Em contato com a sua assessoria de imprensa do político informou que ele não comentaria o assunto.

HOMOFOBIA

O número de gays assassinados no Brasil continua em constante crescimento. De acordo com dados divulgados pela GGB à reportagem de LEIA 7,  entre 1980 – quando a ONG foi criada - e 2009, foram mortos 3.196 gays no Brasil. Do total das vítimas, 34% foram mortas com armas de fogo, 29% com arma branca, 13% por espancamento e 11% por asfixia.

A Bahia é estado que registra o maior número de casos de assassinatos de homossexuais no Brasil. Somente em 2009, foram reconhecidos 25 casos de morte. Já neste ano, até o mês de outubro, 16 gays foram assassinados.

Na opinião do delegado Joselito Bispo, existe uma dificuldade na apuração destes crimes, pois as vítimas se relacionam com um grande número de pessoas. "Diante de muitas mudanças de parceiros, fica difícil a polícia identificar um possível suspeito. Muitos gays também temem em aparecer em público quando sofrem algum tipo de discriminação e, assim, acaba dificultando a investigação policial", disse Bispo.