terça-feira, 12 de outubro de 2010

Mãe se revolta após filho sofrer racismo em Salvador

Jornalista Márcia Guena organiza protesto após incidente

 Márcia Guena ao lado de Zezé Olukemi no Shopping Itaigara. 
(Foto: Henrique Brinco)

Henrique Brinco

Uma manifestação no último sábado, 25 de setembro, trouxe à tona uma discussão sobre a existência do racismo no Brasil ainda nos dias de hoje. A jornalista Márcia Guena resolveu organizar um protesto em frente ao Shopping Itaigara, juntamente com representantes do Movimento Negro na Bahia, após seu filho ser discriminado em um salão de beleza. Munida de cartazes, ela chegou no local ao lado de seu marido, o rapper Aspri, e de seu pai.

Na tarde do último dia 23 de setembro, um cabeleireiro do salão Fascínio recusou-se a cortar o cabelo do menino, que possui apenas seis anos de idade. O profissional queria "passar a máquina" e raspar tudo, pois, segundo ele, o cabelo não poderia ser cortado e nem desembaraçado por ser crespo.

“Bom, eu entrei no salão e perguntei se cortavam o cabelo do meu filho e eles disseram que sim. Aí, eu entrei e lá indicaram um funcionário homem e ele [criança] sentou-se na cadeira. Eu disse ‘Olha, eu quero cortar o cabelo porque ele está muito alto e eu quero diminuir’. Ele disse ‘Ah, aí só dá máquina’.”, contou a jornalista Márcia Guena, mãe do menino.

Guena acha que a criança foi discriminada no estabelecimento. “Eu acho isso um absurdo, porque os cabelos dos negros hoje são penteados das mais diversas formas possíveis. Se você quiser alisa, faz black, faz trança ou simplesmente não faz nada. A opção de raspar não pode ser a única”, reclamou.

Após o ocorrido, a jornalista retirou a criança da cadeira e saiu imediatamente do salão para, segundo ela, “não a expor a uma discussão motivada por racismo explícito”. Em seguida, voltou com a finalidade de procurar a gerente e formalizar a denúncia de racismo.

Segundo Guena, ela procurou a direção do Shopping Itaigara para exigir providências, sendo recebida por Alda, que se identificou como administradora do local. Alda reconheceu a gravidade do problema, confirmando tratar-se sim de uma situação de discriminação e, imediatamente, contatou o estabelecimento para reclamar da forma como foi realizado o atendimento da criança.

Ainda insatisfeita, Márcia Guena decidiu formalizar denúncia de racismo na Delegacia Especial da Criança e do Adolescente e no Ministério Público.

MOVIMENTO INDIGNADO

Na opinião de Zezé Olukemi, representante do instituto Steve Biko em Salvador, ainda é cedo para protestar e um debate sobre o assunto seria mais aconselhável nesse momento. Ele sugeriu a divulgação em redes sociais na Internet, como Twitter e Orkut, para que o assunto não seja esquecido. “Isso é racismo elevado à enésima potência!”, argumentou.

Os manifestantes se reuniram do lado de fora do Shopping e resolveram não fazer o protesto. O encontro durou cerca de duas horas e ficou decidida a divulgação de um manifesto em defesa do movimento negro e da criança. “Não vou divulgar nada ainda, pois não temos datas confirmadas, mas nós vamos promover ações conjuntas, debates no Ministério Público e dar continuidade ao processo”, disse Guena.

Ao notarem a presença da reportagem de LEIA 7 para cobrir o evento, funcionários do Salão Fascínio ficaram inquietos e chamaram imediatamente a segurança, que tentou impedir o nosso trabalho e o protesto de Guena. Ninguém quis comentar o assunto.

Antes de deixar o local, Márcia desabafou e pediu uma reflexão social sobre o racismo na sociedade. “O sentimento de mãe tenho procurado deixar de lado, mas lamento profundamente que o racismo seja uma constante no Brasil e em Salvador, uma cidade tão negra e tão segregada. Se as pessoas se apercebessem como racistas, algumas situações seriam evitadas.”, encerrou.

LEIA 7 tentou entrar em contato com os profissionais do salão Fascínio e com a direção do Shopping Itaigara, sem sucesso. “Já vieram vários repórteres para cobrir esse assunto e tudo vai correr em segredo de Justiça a partir de agora”, disse uma das secretárias por telefone.

Um comentário:

  1. Realmente atitudes como a do profissional do salão de beleza citado na reportagem,são horríveis.Devemos protestar contra absurdos como esse!

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