domingo, 31 de outubro de 2010

IBGE: Índice de reciclagem de latinhas de alumínio supera os 90%

 Latinhas de alumínio supera índices de outros produtos recicláveis, e torna-se o material mais reciclado no País

Marcos W. Oliveira
As latinhas de alumínio são o material mais reciclado no País. O índice de reciclagem deste tipo de produto superou os 90%. Segundo dados da pesquisa Indicadores de Desenvolvimento Sustentável de 2010, divulgada neste mês de outubro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE.

O histórico da pesquisa confirma valores acima de 90% nos últimos cinco anos. Em 2008, os dados revelam uma média de 91,5%, um porcentual considerado elevado mesmo comparado a outros países que apresentam índices altos, como Argentina e Japão, com 90,8% e 87,3%, respectivamente. E neste mesmo ano, somente a etapa de coleta (a compra das latas usadas) movimentou R$ 1,6 bilhões na economia nacional, volume financeiro equivalente ao de empresas que estão entre as maiores do país.

De maneira geral, o índice de reciclagem de quase todos os materiais cresce a cada ano no Brasil, mas o índice das latinhas de alumínio supera qualquer outro. Em 2004, o porcentual considerado era de 95,7%, desde então o índice do produto não ficou mais abaixo dos 90%, aumentando para 96,2% em 2005, e logo após tendo 94,4% em 2006 e, em 2007, de 96,5%, considerado o maior índice obtido.

Para Thiago Ferreira, economista e analista de pesquisa, o elevado índice de reciclagem de latinhas está associado aos níveis de desemprego e pobreza no Brasil, pois, a sucata de alumínio possui alto valor de mercado, tendo em vista o custo elevado de energia para a produção do alumínio metálico. E, nesse contexto, torna-se mais rentável a sua reutilização, a ponto de configurar uma preferência pelo produto por catadores de lixo. "No caso do Brasil, os altos níveis de reciclagem estão mais associados ao valor das matérias-primas e aos altos níveis de pobreza e desemprego do que à educação e à conscientização ambiental. É por conta disto que o papel, o vidro, a resina PET, as latas de aço, e as embalagens cartonadas, de mais baixo valor de mercado, apresentam índices de reciclagem bem menores que as latas de alumínio", explicou.

O estabelecimento, pelo governo federal, de preços mínimos para os materiais recicláveis, deve elevar a proporção de materiais reciclados no Brasil, e, "O aumento nos preços das matérias-primas e da energia, associado a legislações municipal, estadual e federal cada vez mais exigentes em termos ambientais, devem fazer com que os índices de reciclagem de todos os materiais mantenham a tendência de crescimento no longo prazo" afirmou Thiago Ferreira. 

Além dos benefícios ambientais, a reciclagem de materiais é uma oportunidade de negócios, atividade geradora de emprego e renda, e subsidia estratégias de conscientização da população para o tema ambiental e a promoção do uso eficiente dos recursos. "As atividades de reciclagem apresentam importantes implicações econômicas, reduzindo tanto o uso de materiais quanto de energia, promovendo o aumento da eficiência energética de vários setores industriais, isto é, é a importância econômica da reciclagem que explica o contínuo aumento no consumo de quase todos os materiais reciclados" disse o economista. 

Para alguns catadores de lixo, que utilizam a reciclagem como atividade rentável, a latinha ainda é o produto mais lucrativo na hora da venda aos postos. Maria Tomazia Santos, catadora há 4 anos, assume sua preferência pelo material, "eu prefiro catar lata, porque eu ganho hoje, mais ou menos, R$3,50 por quilo. Melhor do que catar outras coisas. O papelão mesmo, às vezes, a gente ganha só R$ 0,15, então é perca de tempo e dinheiro vender outros materiais", explica Maria, que ainda refere-se a reciclagem de latinhas como um recurso para muitos que estão desempregados. "Eu começei a catar latas quando fiquei desempregada, e essa foi a forma que eu consegui de sustentar a casa. Meu marido também estava sem emprego. Montei um grupo com a minha filha e meu marido e hoje eu posso dizer que vivo disso", revelou.

Maria vende todo material coletado ao posto RR Sucata, situado no mesmo bairro em que mora, Pirajá, na cidade de Salvador. O posto recebe latinhas de alumínio, embalagens PET, vidro e papelão. A responsável pelo RR Sucata, Adriana Conceição, parece concordar com Maria, pois, afirma que a preferência pela latinha de alumínio é praticamente unânime entre os catadores, "a maioria das pessoas que vende material aqui traz mais latinha de alumínio. Algumas pessoas nem catam outras coisas", disse.

Nos postos de compra, a latinha chega em quantidade muito maior que qualquer outro material, e a diferença é bastante relevante, segundo Adriana, "o posto recebe em média 50kg de latas de alumínio por dia, depois o que a gente mais recebe é a garrafa PET, que fica entre 10kg e 15kg", afirmou.

A diferença nos preços é grande. O valor oferecido pelos postos ao catador, por quilos de latinhas, é de R$ 2,50 em média, papelão oferecem R$0,15 por quilo, embalagem PET R$0,30, e, R$0,20 por quilo do vidro. O posto RR sucata comprova os valores, "o quilo da latinha é R$2,60, o papelão é R$0,15, a garrafa PET R$0,35", disse Adriana Conceição.

A oscilação nos preços estabelecidos por cada posto deve-se a não formalização da profissão de catador de lixo. A média de valores é estabelecida pela demanda do mercado.

Na pesquisa Indicadores de Desenvolvimento Sustentável de 2010, os índices de reciclagem relacionados a outros tipos de material, excluindo as latas de alumínio, não superaram os 60%. Em 2008, o segundo maior índice de reciclagem ficou com as embalagens Pet, com 54,8%. Na sequência aparecem o vidro (47,0%), as latas de aço (46,5%) e o papel (43,7%).

Um comentário:

  1. Gostei muito da matéria. Realmente reciclagem é algo que sempre deve ser discutido e analisado, principalmente diante de todas as alterações climáticas que o mundo está passando.

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