sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Homossexualidade, Sociedade e Cultura.

Fernanda Fahel, Weslei Gomes e Juliana Schriefer

Por conta da reduzida presença de indivíduos abertamente homossexuais, tanto na mídia como na “vida real”, o conceito popular sobre a homossexualidade muitas vezes resume-se a parâmetros resultantes de uma observação limitada de casos em particular e de uma interpretação precipitada da natureza, tendo como princípio, na maioria dos casos, valores religiosos. 

Há, portanto, uma consciência reduzida, porém crescente, no que diz respeito a realidade do homossexual. Grupos de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros observam que essa limitação social leva à formação de estereotipos prejudiciais. Uma das grandes preocupações entre os LGBT é a luta contra essas representações e interpretações generalistas sobre o homossexual.

Embora decorra a discussão quanto a verdadeira origem da homossexualidade, uma das teorias mais abrangentes e, coincidentemente ou não, mais aceitas, é precisamente a de que a orientação sexual é determinada por algum tipo de disfunção biológica e/ou psicológica, desenvolvida ao longo da “criação” da identidade individual.

Aqueles que preferem se relacionar com individuos do mesmo sexo, negam o que é considerado ‘normal’ dentro da sociaeda e, por isso, são alvo de muito preconceito e esteriótipos enganosos, sendo muitas vezes vistos como pessoas promíscuas, solitárias e pedófilas, que não discernem na sua atração pelo mesmo sexo. Há ainda a visão de que sexualidade seja questão de escolha.

Não há razões concretas e cientificamente válidas para acreditar que os homossexuais tenham maior tendência à promiscuidade que os heterossexuais. Quanto a solidão, os homossexuais possuem as mesmas necessidades de amar e serem amados e de criar vínculos afetivos com outras pessoas sustentando relações monogâmicas duradouras assim como os heterossexuais.

Mais uma vez ligada à interpretação da homossexualidade como disfunção está a sua associação à pedofilia, suportada pela tendência de os casos de pedofilia divulgados observarem-se com maior frequência entre homens adultos e crianças ou adolescentes do mesmo sexo. Cientificamente, assevera-se que não há maior predisposição para o abuso sexual infantil conforme determinada sexualidade, sendo a pedofilia resultante de condição psíquica e não ligada à orientação sexual.

Finalmente, a homossexualidade não é uma escolha mas uma atração sexual e emocional por indivíduos do mesmo sexo que surge de forma espontânea, inesperada e inexplicável, assim como a heterossexualidade.

Se em nossa cultura ocidental a referência cristã marcou fortemente aquilo que seria "normal" em termos de prática sexual, estudos sócio-antropológicos são ricos em exemplos que mostram como outras culturas têm concepções diferentes da sexualidade. À parte os conhecidos exemplos da Antiguidade Clássica, temos outros povos, como certas nações indígenas do Brasil, onde a prática de "fazer cunin", fazer sexo, é muito comum e explícita principalmente entre os solteiros. 

Hoje sabemos que o ser humano é regido pela dimensão do desejo que, submetido às leis da linguagem, frustra qualquer apreensão direta de sua finalidade. Ao buscar o prazer, a sexualidade escapa à ordem da natureza e age a serviço próprio "pervertendo" seu suposto objetivo natural: a procriação. Subordinar a sexualidade à função reprodutora é "um critério demasiadamente limitado", adverte Freud.

Isto vem mostrar à biologia, à moral, à religião e à opinião popular, o quanto elas se enganam no que diz respeito à natureza da sexualidade humana: a sexualidade humana é, em si, perversa. Ou seja, em se tratando de sexualidade, não existe "natureza humana", pois a pulsão sexual não tem um objeto específico, único e muito menos pré-determinado biologicamente.

Tanto a heterossexualidade quanto a homossexualidade são posições libidinais e identificatórias que o sujeito alcança dentro da particularidade de sua história: as duas formas de manifestação da sexualidade são igualmente legítimas.

Tratar a homossexualidade como perversão, depravação, pecado e outros tantos adjetivos é uma visão reducionista e preconceituosa, reflexo do imaginário de uma sociedade, em sua maioria, cristã, que privilegia problemas relacionados ao sexo e deixam fora do debate as verdadeiras questões éticas.

Partes minhas

Apesar da contribuição da imprensa nos últimos anos para dar visibilidade e pautar a questão da discriminação contra homossexuais na sociedade, suscitando uma consciência pública de combate ao preconceito, ainda há um longo caminho a percorrer.              

A mídia é o principal meio para dar voz e visibilidade, abrindo o espaço para possíveis discussões sobre as minorias que buscam o direito de se representar e não ser representado de forma errônea pelos grupos dominantes. Com isso a construção da identidade do cidadão fica prejudicada e distorcida, principalmente quando essa identidade é atravessada pela homossexualidade, entendida como fora dos padrões religiosos e sociais.

“Os movimentos sociais com poucos recursos têm dificuldades em ver os seus acontecimentos transformados em notícia. Se pretendem jogar no tabuleiro do xadrez jornalístico, precisam ajustar o seu modo de interação organizacional aos modos das organizações estabelecidas. A cobertura do movimento social depende em parte da capacidade de [...] demonstrar a sua vontade de participar na teia de faticidade que sustenta o trabalho jornalístico.” (TRAQUINA, 2004, p.198).

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